Amorzinho de infância, a última vez que se viram foi antes da faculdade. Ele foi embora fazer arquitetura e viver de fotografia, ela ficou aqui pra fazer medicina, e aí a vida passou.

Diga-se que eram inseparáveis desde sempre: se conheceram no primeiro dia da escolinha, há tanto tempo que parecia nem ter acontecido, e viveram juntos desde então. Primeiro amigo, primeiro amor, primeiro adeus, primeiro coração partido, a história deles era uma só e sempre foram dois, até que o mundo veio e disse não.

Sonhos, escolhas, caminhos, fizeram os deles e ficou tudo bem. Choraram, verdade, mas dor de amor que já foi sabe esconder. Não passa, mas não incomoda: fica cicatriz pra lembrança de que aconteceu. Carinho é remédio pra saudade.

Quando o coração machucava , lembravam com ternura da vida vivida pra solidão desapertar; seguiram em frente e a vida passou. Pra se reencontrarem foram onze anos, treze países e um filho (dele), até que se esbarraram como por acaso quando ele quis visitar.

Conversa comprida, memento e história, tentaram de leve mas não conseguiram vencer o tempo perdido, então combinaram um café ainda na semana.

Não aconteceu. Por essas razões que a vida tem, acabaram não conseguindo se encontrar no café e depois nunca mais, e aí sim foi a última vez.

Viveram a vida até que felizes, quase sem pensar um no outro, mas de vez em quando a saudade batia e o suspiro servia pra exprimir o sentimento engasgado. “A escolha foi certa”, pensavam, “mas esse era o erro que eu devia ter cometido”.